segunda-feira, julho 16, 2007

Preciso de você, seu filho da puta

Ah, saca esse texto aí que li lá no Blonicas. Engraçado e com uma dose forte de verdade, infelizmente.

Preciso de você, seu filho da puta

De Henrique Szklo

Descobri porque a minha vida não vai pra frente de jeito nenhum. Não que isso tenha resolvido alguma coisa, pelo contrário: de repente descortinou-se a solução de todos os meus problemas financeiros, porém, à custa de um sacrifício que não sei se quero enfrentar. Não, não é trabalhar. Com essa desgraça eu já me acostumei. O buraco é muito mais embaixo.

Todo mundo sabe, e se não sabe finge que sabe, que para ganhar dinheiro no Brasil você precisa ser um pouco filho da puta. Ou muito, dependendo das quantidade de dinheiro que lhe apetecer. Ou seja, para se juntar uns trocados neste país você precisa dar um tombo em alguém, ou muitos alguéns de preferência. Precisa mentir, prevaricar, corromper e ser corrompido, vender influência, enfim, é preciso ser um filho da puta. Mas não um filho da puta comum. É preciso ter a consciência tranquila. Deitar toda noite a cabeça no travesseiro e achar que essa sujeirada é normal, que todo mundo faz, que só os mais espertos sobreviverão. Pois então, um filho da puta comum não conseguiria viver com esse peso na consciência. É preciso ser um filho da puta vocacional.

Neste contexto, a grosso modo, existem 3 tipos de pessoas: 1) Aqueles que acham normal viver com as mãos na lama; 2) Aqueles que acham um absurdo, mas que frente à certas circunstâncias acabam cedendo às pressões e se lambuzando também e; 3) Aqueles xiitas da ética, que em nenhuma hipótese se sujeitam a mergulhar em chiqueiros morais. Mesmo quando estão passando pelos maiores apertos, esses fundamentalistas da honestidade se recusam a enveredar pelo caminho do pecado. Bem, eu estou e sempre estive neste último grupo. Posso dizer que sou de uma facção mais liberal, que comete alguns pecadilhos, mas que na essência mantém a alma pura e sôfrega. Afinal, não sou de ferro e sou brasileiro. Então, culturalmente estou perdoado.

Pois bem, é claro que os membros deste grupo ao qual eu pertenço e defendo jamais acumularão riqueza material. Uma coisa inviabiliza a outra. E mais: como todo fanático que se preza, eu não aceito os outros grupos e sou incapaz de conviver com seus membros. Todas as pessoas as quais eu me associo de alguma forma, são gente boa, honestos, limpos, portanto, incompetentes, incapazes de enxergar cifrões, por exemplo, no sorriso de uma criança. Este bando de bundas-moles vão morrer na praia, de mãozinhas dadas, enchendo a boca de ar e dizendo com orgulho”sou honesto”. Grande merda.

Se pelo menos eu me associasse a um filho da puta qualquer, minhas chances de vitória seriam muito maiores. É claro que eu teria de fechar os olhos para aquelas coisas que eu sei que o filho da puta faria, mas seria para o meu próprio bem. O problema é que eu não consigo. Filhos da puta me dão alergia. Urticária. Tenho vontade de esganar. E mesmo se eu tentar desfarçar. O filho da puta vê em meu olhar que eu o desprezo, que eu o considero um nada. Se pelo menos existisse um híbrido, que fosse filho da puta e não fosse ao mesmo tempo...

Por isso não me resta outra alternativa a não ser me conformar com a pobreza, renunciando totalmente aos valores materiais. É, meus amigos, quem nasceu para papel higiênico nunca chega a guardanapo.

2 comentários:

Serjão disse...

Viva a melada circunstancial... O Radicalismo seja sobre qual for o assunto, não é sadio. Então melemos a mão na lama de vez enquando que a lama faz bem pra pele...

Bobinho disse...

É rapaz...acho que a solução continua sendo alugar o Brasil :(